No geral, não gosto muito
das comemorações tipo “o dia de ...”. Porque viraram comemorações do consumo
que servem principalmente para esquentar um pouco o comércio e fazer endividar
um pouco mais o povo brasileiro já bastante endividado pelo engano das compras
a prazo
No geral, não gosto muito
das comemorações tipo “o dia de ...”. Porque viraram comemorações do consumo
que servem principalmente para esquentar um pouco o comércio e fazer endividar
um pouco mais o povo brasileiro já bastante endividado pelo engano das compras
a prazo.
Mas, se a comemoração do dia
da juventude pode ajudar a dar um pouco de visibilidade a um sujeito social, o
jovem, bastante invisível na sociedade ou, pior ainda, colocado na foto somente
como “jovem-problema”, causador ou vitima da violência que aterroriza a
população, pintada pela mídia como o grande espectro da sociedade brasileira,
então bem vindo o dia da juventude, ou melhor, do jovem.
Porque não se trata da
“juventude” como categoria abstrata, e sim daquele jovem concreto, com suas
singularidades, especificidades, diversidades, daquele jovem trabalhador que
encontro no trem ao meio dia dormindo nos banco já cansado após uma dura
jornada de trabalho, daquele jovem que no campo vá para escola percorrendo muitos
kilometros a pé, ou aquele que vá de bicicleta enfrentando os riscos do
trânsito na cidade porque não tem dinheiro para pegar o ônibus, aquela jovem
que fica em casa cuidando dos irmãos ou dos filhos dos outros, sem ter a
oportunidade de circular, conhecer e vivenciar o mundo, aquela outra que é
discriminada pela cor da pele, a aparência física ou a forma de se vestir, pelo
lugar de moradia ou, simplesmente, pela sua condição de mulher... aquele e
aquele outro, jovem de carne e osso que vive com muitas duvidas, angustias,
perguntas e indignação a urgência e os sonhos de sua condição juvenil.
Livia De Tommasi é Socióloga e Integrante da Rede Juventudes
Quero festejar esses jovens,
que não são “problemas” nem “solução”, que vivem seu cotidiano e procuram um
espaço, um tempo, uma forma, uma linguagem para expressar seus desejos, suas
dores e alegrias, suas demandas e sentimentos, suas diferenças e diversidades,
buscando ser ouvidos, ou, simplesmente, ser visíveis para quem está ao seu
redor. Que vivem e convivem com crianças, adultos, idosos e constroem com eles
os sentidos de suas narrativas e trajetórias de vida.
Não é o jovem “promessa de
futuro” que festejo e sim o jovem do presente, que se arrisca procurando
construir formas de vida significativas que escapem dos rótulos, das
estatísticas e das classificações, que não se deixam segregar pelos projetos e
pelas camisetas e circulam entre os territórios para ser sujeitos e atores de
suas vidas.
Jovens que tematizam suas
questões reinventando o espaço público através da musica, da dança, dos
grafites e das pinturas, nos fanzines, nas poesias, nos blogs e na mídia
alternativa, através das muitas e muito ricas manifestações culturais de que
são produtores.
E se essa comemoração vai
permitir lembrar-nos que os jovens são sujeitos de direitos, direito à educação
de qualidade, direito ao trabalho, ao lazer, à circulação, direito à autonomia,
direito à diversidade, direito a ter oportunidades e escolhas ... finalmente, direito de nomear e reivindicar
seus próprios direitos, então bem vindos os festejos!