Confira a entrevista que Eleudson Queiroz, Superintendente Executivo do Instituto Elo Amigo, concedeu ao jornal A Praça, de Iguatu/CE. Nela, Eleudson fala sobre o surgimento do Instituto, principais projetos desenvolvidos e um pouco da trajetória do Elo durante seus cinco anos de atividades “A sociedade civil organizada pode fazer muito por ela mesma, independente do poder público, embora saibamos que este é um ator fundamental para o desenvolvimento e que precisa estará a serviço de quem o elege”

Eleudson Queiroz

A Praça - Como surgiu o Instituto Elo Amigo e quais foram os motivos para seu surgimento?

Eleudson - O Instituto Elo Amigo nasceu a partir do Projeto Aliança com o Adolescente, uma iniciativa do Instituto Ayrton Senna, da Fundação Odebrecht, da Fundação W. K. Kellogg e do BNDES, que teve início em nossa região em 2000. Inicialmente, a entidade local executora do projeto foi o Sebrae, que continua um grande parceiro do Elo Amigo, que foi fundado em 28 de novembro de 2001, com o objetivo de dar segmento ao projeto piloto da Aliança, finalizado em dezembro de 2004.

A Praça - Como funciona o Elo Amigo e quais projetos que ele possui?

Eleudson - O Elo Amigo é uma entidade sem fins lucrativos qualificada pelo Ministério da Justiça como uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Está voltada para a promoção do Desenvolvimento Humano, Local e Sustentável da região onde atua e organizado para gerar resultados significativos a partir do investimento de organizações parceiras, públicas ou privadas. A equipe do Elo Amigo é formada por pessoas da região, contando com muitos jovens que foram formados pelos diversos projetos executados ao longo dos cinco anos de existência. Neste período foram executados diversos projetos, dentre os quais: Agricultura Ecológica, Programa de Formação de Adolescentes Voluntários, Produtos de Aqüicultura, Arte e Cultura, Direito e Cidadania, Central de Referência em Serviços, Formação de Jovens Lideranças, Formação de Dirigentes de Grêmios Escolares.

Este ano, estão sendo formados jovens pelo projeto Consórcio Social da Juventude Rural – Aliança com Jovens, em parceria com a Rede de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar, o Instituto Aliança e o Governo Federal, e produtores e produtoras rurais na terceira edição do projeto Raízes, da Fetraece, que na região é executado pelo Elo Amigo em parceria com os Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais dos municípios. Há também um trabalho permanente de assessoria técnica em agroecologia às unidades produtivas implantadas, assessoria às pequenas empresas em parceria com o Instituto Sol e acompanhamento a grupos de jovens voluntários e produtores.

A Praça - Qual a dimensão de atuação do Instituto?

Eleudson - Em 2000 a Aliança iniciou as atividades nos municípios de Acopiara, Iguatu, Jucás, Orós e Quixelô, região que denominamos Microrregião do Médio Jaguaribe. Após o término da Aliança, o Elo Amigo continuou atuando nestes 5 municípios e agora em 2006 passou a atuar também em Cariús. São cerca de 15 comunidades trabalhadas nas zonas rural e urbana. As áreas de ação principais são Agroecologia, Empreendedorismo, Protagonismo Juvenil, Voluntariado e Comunicação e Mobilização Social.

A Praça - Quais foram os resultados alcançados?

Eleudson - Foram formados mais de 1.000 jovens das zonas urbana e rural, dezenas de produtores e produtoras rurais adultos e 80 Educadores Sociais, muitos dos quais jovens que tiveram sua primeira oportunidade de trabalho. Hoje, são 110 unidades produtivas agroecológicas implantadas e acompanhadas, em diversos eixos: apicultura, piscicultura, ovinocaprinocultura, hortifruticultura e avicultura caipira. Contando com os produtores envolvidos na Rede de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar, movimento inicialmente mobilizado pelo Elo Amigo e que hoje reúne atualmente 18 entidades, o número de unidades produtivas ultrapassa as 400, tendo sido mobilizados cerca de 1 milhão de reais por meio do Pronaf. O Consórcio Social da Juventude Rural formará 162 jovens e o projeto Raízes mais 28 produtores e produtoras rurais, em agroecologia, este mês.Existem 7 escolas de informática e cidadania e a Ilha Digital implantadas e servindo a centenas de crianças adolescentes, jovens e adultos que têm a oportunidade da Inclusão Digital.O Elo Amigo e o Instituto Centec mantêm o Projeto Bolsa Educacional Aliança, um fundo doado pela Fundação Kellogg para apoiar jovens de baixa renda a cursar uma faculdade ou escola técnica e que tem 8 bolsistas de um total de 20 previstos. O MOVER – Movimento de Jovens Voluntários do Semi-árido Cearense hoje é um movimento tocado por jovens que mantém parceria do o Elo Amigo e que está com diversas atividades voluntárias na área de esporte e recreação, contando com apoio do CEDES – Centro de Estudios de Estado y Sociedad, da Argentina. Em quatro municípios existem os Fóruns Municipais de Juventude, espaços voltados ao debate da juventude em torno dos temas sociais, principalmente, que dizem respeito a este segmento da sociedade. Os Fóruns ainda são movimentos embrionários que precisam ser fortalecidos pela própria juventude, individualmente ou organizadas em grupos.

A Praça - Qual foi o investimento na Microrregião?

Eleudson - Em 5 anos, o Instituto Elo Amigo investiu cerca de 5,5 milhões de reais doados por parceiros como a Fundação Kellogg, o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Odebrecht, a Petrobrás, o Sebrae, o Instituto Votorantim, o Ministério da Justiça, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Trabalho e Emprego, o Instituto Aliança, a Fetraece.

A maior parte deste recurso circulou na região a partir de compras realizadas no comércio pelas pessoas remuneradas pelos projetos, da compra de produtos e serviços de alimentação, material didático, transporte e hospedagem necessários à realização das atividades e que são preferencialmente realizadas no comércio local dos municípios. Foram realizados ainda investimentos direto nas unidades produtivas por meio da compra de equipamentos e insumos para a produção e investimentos em pequenas empresas de jovens.

A Praça - O que mudou depois de cinco anos de investimento social na MMJ?

Eleudson - Além dos resultados e do investimento financeiro já citados, a maior contribuição do Elo Amigo foi trazer à pauta o debate sobre o desenvolvimento regional e incluir o jovem como um ator estratégico deste debate, por ser este um elo intergeracional co-responsável pela sustentabilidade do desenvolvimento. Vimos que os jovens que passaram pelo projeto são bem mais participativos e pró-ativos em suas localidades, escolas e famílias. Além, é claro, de fomentar uma postura de formação de alianças e parcerias voltadas para objetivos comuns e pautada em relações éticas e transparentes com os diversos segmentos e setores da sociedade. Por fim, foi possível mostrar que a sociedade civil organizada pode fazer muito por ela mesma, independente do poder público, embora saibamos que este é um ator fundamental para o desenvolvimento e que precisa estar à serviço de quem o elege.

A Praça - Qual foi a participação e investimento por parte dos empresários da região?

Eleudson - Sempre recebemos pequeno mas importante apoio dos empresários da região para realização de atividades dos projetos. Entretanto, falta, especialmente ao médio e grande empresário, local um apoio mais significativo não apenas ao Instituto Elo Amigo, mas às diversas entidades sociais que desempenham papel relevante na solução de problemas sociais que nos afeta a todos. Programas estruturados de responsabilidade social são importantes para a sociedade e, principalmente, para as empresas, que hoje são avaliadas não apenas pela qualidade de seus produtos e serviços, mas pelo compromisso que têm com a sociedade que as mantém. A equipe do Elo Amigo está apta e sempre disposta a apoiar a elaboração de planos que venham gerar resultado social a partir dos investimentos disponíveis, inclusive, contemplando os benefícios fiscais que as empresas têm direito ao apoiar organizações reconhecidas como OSCIP ou detentora de títulos de utilidade pública.Além dos empresários, faz-se necessário a abertura do poder público dos municípios para estabelecer parcerias com entidades que desenvolvem ações que estão nos planos do município ou que estão servindo à população, de modo a evitar duplicidade de ações e de gastos.Empresários e gestores públicos da região devem ficar cientes de que cada real investido por eles ajuda as entidades sociais a captar outros reais fora da região, porque estas ONG's podem mostrar que têm a confiança de parceiros locais e, como foi visto anteriormente, o recurso que vem de fora pode contribuir significativamente para a economia local.

A Praça - Depois de cinco anos o Instituto possui uma estratégia que consiste em Conjunto Integrados de Projetos, como se dá esse processo e quem pode participar?

Eleudson - Desde 2005 o Elo Amigo, em parceria com a Fundação Kellogg, vem executando um projeto de articulação de entidades locais em torno do desenvolvimento sustentável da região, de acordo com estratégia de Conjunto Integrado de Projetos - CIP que a Fundação vem apoiando em regiões pobres da América Latina e Caribe. Participam do CIP, atualmente, 46 entidades privadas e públicas que estão construindo uma visão de futuro comum, integrando ações existente e criando novos projetos organizados nas dimensões Ambiental, Cultural, Econômica, Política e Social. O CIP é um espaço de construção coletiva aberto para qualquer organização que deseje contribuir com o desenvolvimento regional e esteja disposta a partilhar conhecimentos e iniciativas em prol deste objetivo. Para participar os interessados podem contatar o Elo Amigo ou qualquer entidade participante.

A Praça - O que podemos esperar ainda mais do Instituto Elo Amigo?

Eleudson - Com apenas cinco anos de existência o Instituto Elo Amigo hoje é uma entidade reconhecida e legitimada na região, no Estado e com relações nacionais e internacionais significativas. Este fato nos traz uma responsabilidade maior, porque são cada vez maiores as expectativas de nossos beneficiários e parceiros com relação ao resultado de nosso trabalho. Por isso, estamos realizando um processo de desenvolvimento institucional que visa rever os resultados alcançados e as estratégias até agora utilizadas, e planejar e nos organizar operacionalmente para o trabalho nos próximos 5 a 10 anos, incluindo a ampliação de planejamento compartilhado e captação de recursos locais e externos para viabilizar os projetos. O resultado será uma entidade bem melhor preparada dar sua parcela de contribuição ao Desenvolvimento Humano, Local e Sustentável da região.

A Praça - Para finalizar, qual mensagem você deixa para sociedade iguatuense e da Região Centro Sul.

Eleudson - Uma mensagem de agradecimento por todo apoio e confiança depositados no nosso trabalho e votos de um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo com muita solidariedade e participação cidadã em torno da busca da dignidade humana para todos em nosso querido Brasil. 

Entrevista:Karlos Rikáryo
Foto: Paulo Marcelo